Superficialidades.

Hoje acordei tocada. Tocada pela insatisfação em não conhecer as pessoas mais a fundo. Penso em quantas tristezas e alegrias conheceria se dedicasse mais tempo a cada pessoa que se aproxima de mim. Conhecemos vários seres humanos, mas sua essência raramente desabrocha para nossos olhos. Sei seu nome, sua idade, gosto musical e profissão, mas não sei o ponto de partida para seus pensamentos e opiniões. Costumamos aceitar a felicidade das pessoas, mas quando desponta um raio de dor, nos assustamos. Pensamos que temos as piores dores e os outros ajudam a esquece-las. Mas quando o outro mostra sua fraqueza, nossa ilusão desmorona e ficamos perdidos. Tentamos consolar de um modo meio desconcertado e, sem sabermos como lidar com  essa dor, - aliás, não sabemos nem como lidar com as nossas - nos afastamos. E lá se vai a oportunidade de conhecer a real essência daquele ser, o todo, o que assusta e o que encanta. Que graça tem só conhecer os sorrisos? As feridas, as cicatrizes, as lágrimas também estão lá, queiramos ou não. Além disso, algo mais interfere nas relações com as pessoas. Me pego formando conceitos baseados em visões alheias e não me dou a oportunidade de conhecer o real. Cansamos de receber informações sobre até então desconhecidos através de bocas e mais bocas. Quem me garante veracidade? Que eu tenha a oportunidade de conhecer a fundo quem passa por mim, para conhecer a verdade e não o que dizem ela ser. O mundo está apegado ao superficial,  à falsa demonstração de satisfação com a vida, à beleza superficial, ao desinteresse em conhecer pessoas por causa do individualismo gritante, ao interesse por especulações. O que quero dizer é para que cuidem melhor da vida dos outros, no sentido de cuidar mesmo, não de saber. Permita-se conhecer gente nova e guardar essa experiência para você, sem se influenciar ou influenciar pelas opiniões. Aquela velha história de "bater o santo" existe e cada um tem seu santo diferente. Permita-se evoluir com o que te ensinam e ajude a evoluir aquele que te conhece. Se pararmos para refletir, somos um pouco de cada pessoa que nos entregamos afetivamente. As conexões humanas podem ser mais fortes do que se imagina, a questão é dar a oportunidade. Se esconder ou desprezar o diferente não faz mais sentido, o que ajuda é se abrir a novas experiências e fazer valer a pena, sejam elas terminadas em algo bom ou ruim, duradouras ou não.

Escolhas.

Já pararam pra pensar que a cada mínima escolha que fazemos, se cria um futuro diferente? A mínima. Se faço algo ou não, o modo que faço, o quanto esperei pra fazer. Qualquer coisa pequena consegue mudar sua posição perante o mundo. Pode ser que alguém fale comigo e me dê uma conversa que mude meu modo de pensar sobre algo, ou posso deixar pra depois e nunca te-la, nunca mudando. Pode ser que deixei passar um momento aparentemente insignificante que mudaria um grande aspecto da minha vida e nem estou ciente. Como seria meu futuro daqui a meia hora, se eu resolvesse dizer um simples oi para alguém que nunca vi... Uma nova amizade, ou só mais um momento de simpatia? Quem vai saber? Cada minuto afeta seu futuro, é impressionante, até mesmo assustador. Focamos nas grandes escolhas e não percebemos que temos que faze-las a todo momento, ininterruptamente. O tema que abordei, as ideias que descartei, as palavras que escolhi... Me dá vontade de arrumar um jeito de seguir todos os caminhos, para ver o rumo que será tomado e escolher a escolha! Pelo menos nos focamos naquelas que enxergamos como importantes, senão perderíamos nossa sanidade "travando" em toda e qualquer escolha a ser feita, afinal, apenas essas já mexem com a gente e, depois de escolher não podemos voltar atrás, não temos o poder de voltar no tempo, já foi. Realmente, "cada escolha, um renúncia, isso é a vida." O que será que já renunciamos, e o que será que escolhemos aceitar? 

Vivendo?

Na minha visão, a vida é um conjunto dos momentos que vivemos, e um bom objetivo para ela seria fazer com que a maioria deles valessem a pena, senão não vejo outro bom motivo. Baseando-se nessa visão, a gente desperdiça a maioria do tempo que deveria ser empregado nessa meta. Por quê? O objetivo de vida imposto pela sociedade é o trabalho. Sem trabalho você não tem essa ilusória autonomia, não come, não bebe, não se sustenta. Não há escolha, "vai trabalhar vagabundo!". E se for contra isso, tente viver dignamente... Ilusão. Crescemos sendo preparados para o mercado de trabalho, trabalhamos para bancar os estudos, e estudamos para que? Justamente para conseguir outro emprego. Dinheiro, dinheiro, dinheiro, é o que tudo movimenta. E quanto tempo você tem para usufruir do seu ganho? Um fim de semana que voa. E é assim a vida inteira. Talvez para quem tenha garantido sua aposentadoria até dê pra curtir um pouco nesse tantinho de vida que lhe restou depois de tantos anos... Dá para enxergar o que eu estou dizendo? O desequilíbrio de tempo entre a rotina maçante e o tempo que nos resta pra tentar fazer os momentos valerem a pena é absurda. Queremos que o dia passe rápido para descansar de uma vez por todas, queremos que um dia da nossa vida passe rápido! Um dia a menos nela, queremos isso... E se você deixa seu emprego em segundo plano dando mais tempo a você, sinto muito, você não entendeu como a vida funciona jovem. Como a vida funciona? Como deveria funcionar? "O mundo está ao contrário e ninguém reparou".

Inesperado.

As coisas realmente acontecem quando menos se espera. Sempre tentamos controlar, esquematizar, prever... em vão. As coisas só vão acontecer mesmo quando pensarmos que não vão. E isso vale para todo o tipo de situação. Quando achamos que não aparecerá mais nenhuma oportunidade de emprego, surge um cargo que simplesmente não havia quando estávamos procurando desesperadamente. Quando você desiste de sair por não haver bons lugares, alguém te convida para algo que pode ser até melhor que suas opções. Quando você sente que seu problema chegou ao limite, surge uma solução que te tira do fim da linha. Quando você sai às pressas, com as unhas por fazer, o cabelo por alisar e a maquiagem básica, sem toda a máscara feminina... Aparece alguém que te nota pra valer. Simplesmente assim. Nem notamos, mas o inesperado está muito presente nas nossas vidas. Soluções, expectativas, às vezes decepções, surpresas... Tudo fora de nosso controle; e o engraçado é que mesmo assim não paramos nunca de tentar controlar o que vai acontecer. O que planejo geralmente acaba tomando outro rumo, então vou seguir o lema de que o que é pra ser, será.

Rotina.

Desperta, espera, pensa, pisca, olha, cochila, acorda, boceja, espreguiça, levanta, para, lamenta, come, escova, veste, calça, enxerga, liga, assiste, digita, escreve, lê, conversa, cansa, desliga. Fala, combina, maquia, sai, caminha, ouve, cumprimenta, sorri, malha, sua, volta. Despe, banha, ensaboa, relaxa, seca, maquia, perfuma, veste, come, escova, atrasa. Trabalha, espera, entedia, comemora, volta. Despe, descalça, refresca, canta, enxuga, veste, liga, assiste, conversa, come, come, come, desliga, escova, "desenxerga", apaga, deita, planeja, reflete, dorme, sonha, desperta...

Erros.

Minha nossa, quantos erros cometidos. Mais do que posso contar, mais do que posso lembrar e talvez até mais que acertos. Aqueles que nem me atentei e aqueles que escolhi cometer. E os arrependimentos não tardam; me sinto estúpida por não perceber antes ou então muito insensata por querer seguir o caminho fadado ao erro. E a pior parte? Arrependo-me, porém continuo. Amo, tenho o dom em insistir nessas falhas. Mesmo que eu perceba a tempo, não vou parar. É como uma alergia ao seguro, às certezas... Como se eu quisesse chegar ao fundo para depois sentir o que há de bom em se levantar. Atraente, incerto e estúpido, palavras que definem bem o que sempre procuro inconscientemente. As pessoas tem uma cautela natural para evitar tais coisas, e eu só queria que a minha não estivesse danificada.

Pessoas.

Gosto de pessoas que são sinceras no olhar e nas palavras, que tem senso de humor, que se expressam o suficiente para eu entender o que se passa, que respondem "por que não?" ao invés de "não", que gostam de X mas experimentam Y, que tem o gosto musical parecido com o meu, que agitam e não desanimam, que se apegam mas não sufocam, que falam gírias, que não abominam palavrões, que planejam tatuagens, que são viciadas em algo interessante ou diferente, que não falam eu te amo até pro ar, que ficam com cara de cu ao invés de um sorriso falso, que sorriem "torto", que bebem comigo, que gostam da mary, que cantam com a música seee souber cantar, que tem alguma mania física, que transmitem confiança, que não pensam no amanhã, que são cinéfilas, que são imprevisíveis, que param para ouvir as letras das músicas, que sacam o meu jeito, que gostam de rolês improvisados, que são caras de pau, que não são simpáticas com todos, que deixam saudade, que te fazem refletir, que compartilham ideias idiotas, que provocam, que debatem, que não ligam para status social, que não levam a vida tão, tão a sério. Em muito disso não me encaixo, confesso, mas apenas me agrada quem assim é.