Tempo.

É tão incoerente. Ao mesmo tempo que vivo correndo ainda tenho tanto tempo... É uma questão de visão. Por falta dele deixei de fazer muitas coisas que tive vontade - aulas de dança, tocar algum instrumento, fazer algum curso, passar mais tempo com alguém - e que agora não são mais possíveis, afinal, daqui em diante ele só será mais escasso devido a pressa vertiginosa do mundo moderno que somos obrigados a acompanhar. O que me intriga é que nesse exato momento pode estar acontecendo o que ocorreu antigamente. No presente, enxergo que eu poderia ter realizado muitas coisas no passado, mas futuramente posso pensar isso desse presente. Enfim, pode ser que eu passe minha vida pensando no que poderia ter sido e não foi, repetindo o mesmo erro. Passa tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Um ano soa tão demorado, mas os dias voam e quando nos damos conta acabou. Também acho uma injustiça a sensação dele passar tão devagar quando estamos entediados, mas tão depressa se há algo bom acontecendo. Deveria ser ao contrário. Parece haver tantas variações, apesar de ser invariável. Tem dias que procuro coisas para o tempo passar mais rápido e em outros sinto a falta que um minuto me faz. Às vezes faço um mês parecer um século e em outras parece que acordarei com trinta anos. Ao mesmo tempo que a vida demora pra passar, passa rápido, sabe? Enquanto estamos passando pelos momentos nem sentimos o tempo, mas depois você vê quanto tempo faz que tal coisa aconteceu, o quão longe ficou. Acho que se fôssemos senti-lo passar, ficaríamos desesperados. "Vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo" ou "Temos todo o tempo do mundo"?


Time - Pink Floyd:

"You are young and life is long and there is time to kill today and then one day you find ten years have got behind you."

Segunda.

Bom dia. Não dormi, é uma segunda-feira e estou trabalhando logo de manhã, mas o dia está tão lindo, o frio cessou, estou numa paz... Uma segunda sem mau humor. Depois de abandonar a internet por uns momentos para tomar café e me arrumar, olhei o espelho e tive vontade de sorrir, ao contrário dos outros dias em que meu único desejo era voltar correndo e me entregar à cama. Ia começar a esconder com maquiagem a cara de acabada pelas madrugadas em claro, mas não foi necessário. Observei como meu cabelo está comprido e passei um tempo fazendo apenas isso, observando. Troquei o corrido pão com manteiga pelo que estava com vontade e me dei um tempo pra comer sem pensar no horário. Deixei alguns filmes baixando para completar minha noite, ouvi Raimundos e me senti bem com a primeira roupa que escolhi, o que é raro. Cheguei meio atrasada no trabalho - rotina - e um cachorro com as patas sujas de terra veio correndo em minha direção e por sorte apenas me encarou abanando o rabo. Passei pelas pessoas sorrindo e desejando bom dia sem o receio de não ouvir uma resposta [Fim do texto na parte da manhã]. Trabalhei sem perder o ânimo e mais tarde fui para casa dormir, afinal, ainda não havia feito isso. Depois acompanhei meu pai em alguns lugares, pegamos um pouco de pista às cinco da tarde com o sol se pondo no horizonte logo a frente, o clima agradável e o vento diretamente no rosto, me esquecendo das encanações femininas com cabelo desarrumado. Em alguma parte do caminho senti o cheiro intenso das árvores, da natureza, apesar de toda a poluição. Comecei a ver detalhes imperceptíveis a quem passa às pressas, queria poder observar melhor, mas como não era possível comecei a olhar os riscos brancos do asfalto e tudo passava tão rápido... que se tornou monótono e dormi. Quando cheguei em casa todo o encanto do dia se foi com o sol, mas o sentimento que me acompanhou agiu como uma renovação. O dia foi um tanto quanto comum, nada de extraordinário, mas foi como se alguma parte de mim tivesse mudado. Mais tarde descubro qual.